CIÊNCIAS E DIRETOS HUMANOS
CIÊNCIA E DIREITOS HUMANOS
Penildon Silva Filho
Professor da UFBA
Doutor em Educação
Em 1609 o astrônomo italiano Galileu Galilei apontou pela primeira vez uma luneta para o céu e iniciou a comprovação da teoria de Nicolau Copérnico: a de que não era a Terra que estava no centro do sistema solar, mas o Sol. Iniciava-se uma revolução no pensamento ocidental, então dominado pelos dogmas da Igreja cristã, que adotou a teoria heliocêntrica de Aristóteles e de Ptolomeu. Durante o final do Império Romano e a Idade Média, era proibido sustentar qualquer outra ideia que não aquelas apresentadas pela instituição religiosa. Ninguém poderia ousar questionar as bulas papais, e todos os que se envolviam na descrição da Natureza da Terra ou do firmamento deveriam obedecer às ideias equivocadas de que a vida aqui em baixo era desvinculada do que ocorria nas esferas celestes, movidas eternamente em círculos e sem qualquer mutação em sua história.
Mas Galileu fez a revolução nos céus procedendo de uma maneira muito simples: ele simplesmente fez observações! Não basta que as pessoas tenham boas teorias ou concepções poéticas e mirabolantes sobre o funcionamento do Cosmos; deve-se sempre confrontar o que se teoriza com observações e experimentações para testá-las. Foi assim que Galileu descobriu as crateras, as montanhas e os “mares” da Lua, enquanto Aristóteles e toda a Igreja sustentavam que as esferas celestes eram “lisas”. Galileu também observou as “manchas solares” e mais uma vez desbancou a concepção errada das autoridades de que o Sol não teria imperfeições. Ele também descobriu as quatro luas de Júpiter e demonstrou que outros corpos celestes não giravam ao redor da Terra, e também registrou as “fases” do planeta Vênus, que se comportam iguais às fases da Lua, e assim demonstrou como outro planeta girava em torno do Sol e não do nosso!
Há muitos exemplos de como dogmas desvinculados da realidade perduraram por muito tempo. Durante mais de mil anos os eclesiásticos que dominavam a Educação e a Cultura afirmavam que os corpos mais pesados caem mais rápido que os corpos mais leves, e bastou a singela experiência de deixar duas esferas, uma de ferro e outro de madeira, caírem da torre de Pisa na Itália para comprovar que todos os corpos aceleram na mesma medida e chegam ao mesmo tempo ao chão. Por tudo isso Galileu foi perseguido e ameaçado de morte em tribunais dogmáticos religiosos daqueles que se negavam a confrontar suas escrituras com a simples observação da Natureza.
Em 1858, outro cientista, usando a observação, a catalogação de informações e a busca por evidências, criou uma teoria que abalaria mais uma vez o edifício do dogmatismo: Charles Darwin e sua teoria da Evolução. Sua teoria argumentava em cima de fortes evidências que todos os seres no planeta são ligados por um passado comum, todos descendemos de seres vivos mais simples que evoluíram através de pequenas alterações no seu código genético e através da seleção natural.
Essa forma de conhecer a realidade nos mostrou que os seres humanos são todos iguais, e que não há raças em nossa espécie, e que as diferenças de cor de pele, tipo de cabelo ou características físicas externas são, do ponto de vista genético, menos relevantes do as que o tipo sanguíneo: O, A, B ou AB.
A Ciência nos mostrou que a observação, a experimentação, o teste das hipóteses, a abertura para pensar o novo, o desapego à autoridade são essenciais para o avanço do conhecimento, a conforto das pessoas, o avanço econômico. Mas também nos evidenciou o quanto somos todos membros de uma mesma espécie, e que não há diferenças de valor entre as pessoas. A Ciência foi e é uma arma poderosa para vencer nossos preconceitos contra outros seres humanos, outras culturas, outros grupos sociais. Da mesma forma que devemos derrubar os dogmatismos de concepções erradas sobre os corpos celestes, sobre a evolução das espécies e a natureza das mudanças geológicas, devemos perceber que somos todos membros de uma mesma espécie, que habita um mesmo planeta, e que as fronteiras e intolerâncias são secundárias se comparadas com nossas características e nosso passado comuns.